Polêmica da camisinha volta às salas de aula

23/10/2011 20:31

Projeto começa em 2012 e divide opiniões de pais, alunos e educadores

 

Distribuição. Máquina foi criada por alunos de mecatrônica do Cefet de Santa Catarina, em 2008

 

O Ministério da Saúde pretende retomar uma proposta que já gerou muita polêmica: instalar máquinas de distribuição gratuita de preservativos para adolescentes nas escolas públicas de ensino médio em todo país.

Em 2008, uma instituição na Bahia e outra em Pernambuco testaram a "engenharia" durante um mês. Mas, com a repercussão negativa da população, os equipamentos foram recolhidos e o assunto encerrado. Agora, o governo retoma o projeto. A previsão é que, no próximo ano, o projeto piloto comece em duas escolas - uma em Florianópolis e outra em Brasília.

De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES), ainda não está previsto o uso da máquina nas escolas de Minas. Mesmo assim, o projeto já divide opiniões entre pais, alunos e especialistas mineiros.

Para a Associação de Pais de Minas Gerais, a adoção do projeto é arbitrária. "É um desrespeito às famílias de todo o país. Cabe aos pais informar seus filhos, e não à escola, que não sabe ao certo em que momento fazer isso", disse o presidente da associação, Mário de Assis. Para ele, a medida poderá ter um efeito contrário ao proposto. "Vai estimular que nossos jovens iniciem a vida sexual cada vez mais cedo".

Psicanalista da Escola Brasileira de Psicanálise de Minas Gerais, Cristiane Barreto ressalta que a distribuição dos preservativos é bem-vinda, mas deve ser aliada a um trabalho pedagógico específico que trate a sexualidade na adolescência. "Sem esse suporte educacional, a distribuição de camisinhas perde o sentido de prevenção e de conhecimento", afirma.

A intenção do Mistério da Saúde não é apenas distribuir camisinhas aos jovens. Antes de as máquinas serem implementadas na rotina das escolas, professores, estudantes e pais irão participar de uma pesquisa que tem como finalidade debater as principais dúvidas e questionamentos dos entrevistados. "Nossa intenção é trazer toda a comunidade para discutir a sexualidade na adolescência, além de prevenir doenças", defende o diretor do departamento DST/Aids do Ministério da Saúde, Dirceu Greco.

Programa. Além da pesquisa, as instituições de ensino que quiserem aderir ao projeto devem apresentar um programa de informação sobre sexo e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada. A adesão às máquinas não é obrigatória.

De acordo com o Ministério da Saúde, 66 mil escolas em todo país já trabalham o tema "doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e Aids". Em Minas, das 11.198 escolas que responderam ao Censo Escolar 2008, 6.287 afirmaram incluir o tema com a comunidade escolar.

Minientrevista

"Vida sexual segura é aquela que inclui informação e prevenção."

Dirceu Greco
Diretor do departamento DST/Aids do Ministério da Saúde

 

Por que o Ministério da Saúde decidiu retomar o projeto que causou tanta polêmica entre pais, alunos e educadores?
A campanha quer, na verdade, proporcionar ao adolescente discussões sobre sexualidade. Além de ensinar, queremos facilitar o acesso do jovem a informações sobre prevenção contra doenças sexualmente transmissíveis e contra a gravidez precoce.

Todas as escolas do país serão obrigadas a disponibilizar as máquinas?
Não. Esse projeto tem uma esfera muito mais ampla. Não é somente a distribuição da camisinha, mas, sim, abordar questões de sexualidade com os adolescentes. A principal finalidade é mostrar aos jovens que vida sexual segura é aquela que inclui informação e prevenção.

Quando os testes irão começar?
Acreditamos que a máquina comece a funcionar no ano que vem. Tudo depende de como a comunidade escolar vai receber a proposta.

Como o Ministério da Saúde desenvolveu a máquina?
Laçamos um processo de seleção dentro dos centros de educação técnica do país para que os alunos desenvolvessem um projeto. O modelo escolhido foi o desenvolvido pelo Cefet de Santa Catarina.

Como será a produção das máquinas?
No mês passado, o Ministério da Saúde abriu processo de licitação para que empresas possam produzir a máquina em larga escala.

As escolas já foram definidas?
Uma escola de Brasília e outra de Florianópolis irão iniciar os testes. Ainda não temos quais serão essas unidades. (GS)

Falta informação

´Os jovens estão desprotegidos´

Uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde em parceria com a Unicef, em 2008, revela que jovens entre 13 e 19 anos têm dificuldade de acesso a informações sobre sexualidade e a preservativos. "Isso mostra que nossos jovens estão desprotegidos e sem instrução adequada", disse Dirceu Greco, diretor do Departamento DST/Aids do Ministério da Saúde.

Para a psicanalista da Escola Brasileira de Psicanálise de Minas Gerais Cristiane Barreto, a principal preocupação dos pais deve ser na forma com que os jovens tiram suas dúvidas sobre sexo. "Hoje os jovens utilizam a internet e até mesmo os amigos para se informar. Isso é errado, pois nem sempre essas informações são corretas e no momento certo", disse.

A coordenadora do Programa Saúde e Prevenção nas Escolas do Sindicato Único dos Trabalhadores (Sind-UTE), Marilda de Abreu Araújo, ressalta que a preparação dos educadores também é importante para que o tema seja debatido com os adolescentes nas unidades de ensino. "Sem a capacitação dos profissionais e a adesão e apoio dos pais, a distribuição das camisinhas não será capaz de proteger nossos jovens".

Apesar dos benefícios que o programa pode proporcionar aos estudantes, a mãe de um adolescente de 15 anos, a técnica de segurança do trabalho Litza Souza, 33, acredita que falta preparação "Tudo pode ser levado na brincadeira. A família que tem que orientar seus filhos". (GS)

 

Fonte-O Tempo