Norte de Minas será nova fronteira da mineração
A extração de minério de ferro deverá levar para a região o desenvolvimento que já trouxe ao quadrilátero ferrífero e à região central. Fruticultura é outra fonte de riquezas
Os recursos e potencialidades que o Norte de Minas conhece hoje contrastam com a imagem da pobreza castigada pelo clima semiárido que sempre se associou à região. As Minas da região Norte são muitas, e vão da pecuária à produção da biotecnologia avançada, da produção de energia elétrica e biodiesel à fabricação de produtos têxteis, da fruticultura à produção de florestas, da cachaça de qualidade à paçoca de carne de sol. Para ampliar essa lista, nos últimos dois anos, também a mineração surgiu como uma das atividades capazes de transformar a realidade nas áreas menos desenvolvidas. È o que deve acontecer no Alto Rio Pardo e na Serra Geral, onde a exploração de jazidas de minério de ferro deve receber investimentos de R$ 7 bilhões nos próximos cinco anos.
A transformação do Norte de Minas na nova nova fronteira mineral do estado é aposta de grandes empresas nacionais e multinacionais detentoras de direitos minerais na região. Entre elas, Vale, CSN, Grupo Votorantim, MTransminas, Mineração Minas Bahia (Miba) e Gema Verde. A ideia é viabilizar a exploração de minério de baixo teor. A reserva estimada é de 20 bilhões de toneladas de minério abrangendo 20 municípios, entre eles, Salinas, Rio Pardo de Minas, Grão Mogol, Porteirinha e Nova Aurora. Para alavancar a exploração mineral nesta nova fronteira, no entanto, será preciso infraestrutura e planejamento logístico. “Num futuro próximo, o minério de ferro vai levar para o Norte de Minas o mesmo desenvolvimento que levou para a região Central e para o quadrilátero ferrífero. Isso significa a criação de infraestrutura e construção de rodovias. Será preciso desenvolver a produção de energias renováveis como eólica e fotovoltaica e construir novas barragens, que também servirão para a irrigação. O gás natural da Bacia do São Francisco poderá ser usado na produção siderúrgica”, observa Paulo Sérgio Machado Ribeiro, subsecretário de desenvolvimento mínero-metalúrgico e política energética do estado de Minas Gerais.
Levantamento feito pela Agência de Desenvolvimento da Região Norte de Minas Gerais (Adenor), aponta, ainda, que o agronegócio, representado principalmente pela fruticultura, é uma das principais alternativas econômicas de produção para os agricultores e para o desenvolvimento da região. É o que se nota nas unidades produtoras concentradas nos projetos de irrigação do Jaíba, Gorutuba e Pirapora. São, ao todo, 26,8 mil hectares já irrigados com predominância das culturas de banana, limão, manga, uva e cana-de-açúcar para a produção de álcool. “Esse é um segmento prioritário dos conselhos regionais de Janaúba, Januária, Montes Claros, Pirapora e Salinas”, diz o presidente da Adenor, Geraldo Eustáquio Andrade Drumond.
Somente uma das cooperativas instaladas na região, a Cooperativa dos Produtores de Banana Prata de Minas, a Cia da Fruta, produz 1,5 tonelada de bananas por mês. São 1.000 hectares plantados no Jaíba, em São Francisco, em Maria da Cruz e em Capitão Enéias. Toda a fruta que sai dali vai direto para as gôndolas de grandes redes supermercadistas como Carrefour, Pão de açúcar, WalMart e Sendas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Ao todo, a Cia da Fruta emprega 600 trabalhadores diretos e 1,8 mil indiretos. A agricultura familiar é outra fonte de renda importante para a região. Edcarlos Santos Cruz é produtor de tomates, pepinos e pimentões em Nova Matrona, no Alto Rio Pardo. Trabalha com a esposa e vende o que produz em Vitória da Conquista, Jabaquara e Itabuna e também para atravessadores. “Tudo aqui é irrigado pelo seco ou pelo gotejo. Hoje tenho uma vida básica, com carro e casa. Tudo o que consegui foi com a lavoura”.
A cachaça artesanal de qualidade é ponto forte da região. Só na região de Salinas são 70 alambiques, 53 marcas e 27 produtores, entre eles a família Santiago, dona da Havana, a cachaça mais famosa do Brasil, e da Canarinha. Junto com irmãos, Eilton Santiago é proprietário da marca Canarinha. Ele conta que produz 25 mil litros ao ano e que tem a demanda por seu produto, que pode sair a R$ 80 nas casas do ramo em Belo Horizonte e bem mais cara em praças como Rio de Janeiro e São Paulo, é bem maior do que a oferta. “Saindo se Salinas, tem quem peça R$ 120”, garante o produtor, que procura vender o mínimo que pode por cliente, como estratégia para atender a todos.
O extrativismo, a agricultura e a vocação agropecuária, porém, convivem com indústrias de ponta, instaladas em Montes Claros. “Uma das principais características do Norte de Minas é o contraste entre vários segmentos da economia. Aqui o desenvolvimento começou há 60 anos, com o estímulo da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste). Esse estímulo trouxe para Montes Claros empresas de ponta, como a industria de biotecnologia”, diz o presidente da regional da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Ariovaldo de Melo Filho. É ali que estão instaladas empresas como a Vallée (vacinas contra aftosa, raiva e brucelose, antiparasitários, suplementos e terapêuticos para bovinos), a Novo Nordisk (insulina e produtos para tratamento da diabetes) e a Hipolabor (medicamentos).
Na Vallée, o crescimento médio é 15% ao ano e o faturamento em 2010 foi de R$ 200 milhões. Atualmente a empresa exporta para países da América Latina, mas nos próximos cinco anos venderá também para África e Ásia. “O Mercado Veterinário Brasileiro vem a cada ano consolidando sua posição como celeiro do mundo. Com a queda dos subsídios dos países desenvolvidos e o crescente aumento do consumo de carne, leite e derivados, o país se fortalece como potencia mundial”, diz o gerente de operações de mercado da empresa, Luis Almeida.
Fonte: Jornal Estado de Minas