Em Araçuaí, família de rapaz que apareceu morto em penitenciária de Valadares diz que vai aguardar perícia para processar o Estado
Sérgio Vasconcelos
Repórter
Por vingança, Pedro Luiz matou em 2004 o assassino do seu pai. Os dois crimes ocorreram na zona rural de Araçuai
Indignação e revolta. Estes são os sentimentos manifestados pela família do lavrador Pedro Luiz Pereira, 26 anos, que apareceu morto na manhã de segunda-feira ( 3/10) em uma cela da penitenciária Francisco Floriano, de Governador Valadares, no leste de Minas Gerais. De acordo com a assistente social da penitenciária, Pedro Luiz se enforcou usando a própria calça. Ele foi sepultado na manhã de quarta-feira (5/10) no cemitério municipal de Araçuai.
O lavrador cumpria há dois anos, pena de 13 anos por homicídio. Em março de 2004, com ajuda do irmão João Eulassir Pereira, ele matou a facadas o garimpeiro Mário Pacheco, na comunidade do Girau, zona rural de Araçuai. O crime foi motivado por vingança. De acordo com familiares do rapaz , o garimpeiro executou a pauladas Advaldo Alves Pereira. pai de João e Pedro, numa discussão de garimpo. Mário Pacheco não chegou a cumprir pena pelo crime. “ Esses meninos eram pequenos e cresceram revoltados com a falta de punição do assassino do pai. Eles esperaram mais de 20 anos por Justiça que não foi feita. Prometeram vingança e cumpriram”, contou Olimpio dos Reis Oliveira, 50 anos, tio de Pedro Luiz. “ Logo após o crime, eles ficaram foragidos e um mês depois se apresentaram na delegacia de Polícia de Araçuaí. Ganharam o direito de responder o processo em liberdade. O irmão de Pedro foi condenado a 12 anos e Pedro a 13 “, lembrou Olimpio dos Reis.
Antes do julgamento, os dois irmãos saíram de Araçuaí para ganhar a vida no corte de cana em São Paulo. “ Depois que o pai deles morreu, a mãe ficou abestalhada. Tudo isso criou uma revolta dentro deles”, acredita Lindaura Alves Silva, 49 anos, tia dos rapazes.
Translado do corpo causa revolta
Como se não bastasse a dor pela morte do pai e do irmão, os familiares de Pedro Luiz Pereira ficaram revoltados com a atitude da direção da penitenciária de Governador Valadares. “ Fomos informados da morte dele por volta de 3 horas da tarde de segunda-feira. Disseram que encontraram o corpo de manhã. Ele estava sozinho em uma cela. Providenciamos uma funerária para cuidar do translado.No IML de Valadares, disseram que so poderiam liberar com a presença de um parente. Saí de Araçuaí às pressas e quando cheguei lá nem me pediram documento para saber se eu era realmente irmão. Com isso não podemos nem velar o Pedro como devia. O sepultamento foi feito logo depois da chegada do corpo em Araçuaí”, afirmou revoltado o lavrador Márcio Luiz Pereira, de 34 anos, irmão de Pedro.
Indagado pela reportagem sobre quando foi a última vez que visitou o irmão e se ele havia notado alguma mudança em seu comportamento, o lavrador foi taxativo. “ Ele estava deprimido, não dizia coisa com coisa. Ele me contou que sua pena já havia sido cumprida”, disse Márcio Luiz. “ Se ele estava deprimido, porque não estava sendo tratado? Não sabemos de nada”, completou Márcio, afirmando que a família vai aguardar o laudo pericial para tomar uma decisão sobre se devem ou não processar o Estado.