Eletricista que catalogou mais de mil apelidos em Araçuaí quer publicar livro

24/07/2011 21:31

O eletricista Aguinaldo Silva, mais conhecido por Naka, residente em Araçuaí, está buscando patrocínio para publicar um livro com mais de mil apelidos catalogados ao longo de uma década, em Araçuaí.


Movido pela curiosidade, Aguinaldo Silva, que não é escritor de novelas, tem  65 anos. Nascido e criado na região da baixada de Araçuaí, no Médio Jequitinhonha, nordeste de Minas, resolveu catalogar os apelidos mais conhecidos da cidade.
Foi uma pesquisa de mais de 10 anos. Qual foi sua surpresa, ao se deparar com mais de mil, incluindo o seu.

“Poucas pessoas sabem que eu me chamo Aguinaldo. Meu irmão mais velho que colocou quando éramos criança. Já teve situações de alguém gritar “ó Aguinaldo e eu continuar andando. Acho que até eu me esqueci que chamo Aguinaldo”, brinca o eletricista.


“Às vezes no meio da noite eu acordava e lembrava de um apelido e acrescentava. Ricos e pobres, pretos e brancos, gente que já morreu. Ninguém escapou".

Há os mais famosos, conhecidos de todos como Breado, Zé da Venda, Merita Mocó, Otávio Lacrão, Careca, Xapeta, Pequi, Bocão, To Bufão,Maria Pretinha, Santa Rapé, Loquinha, Santo Peba, Moqueca,Papagaio, Pernambuco, Bonitinho, Coqueiro, Carrim Chaleira, Netércio Troção, figuram na lista .


“Deveria ter uma lista telefônica com os apelidos. Tem muita gente que não sabe o nome verdadeiro das pessoas aqui na cidade”, defende o eletricista.



Mas afinal, o que é apelido? Para os folcloristas é toda expressão usada para uma determinada criatura com a finalidade de aumentar ou diminuir-lhe as qualidades ou defeitos. Há sempre uma razão de ser do apelido que acompanha seu dono muitas vezes desde a infância.


Nem os santos escapam. São Pedro, é o chaveiro do céu, São João é fogueteiro e Santo Antônio, casamenteiro.



Muitas vezes os apelidos estão ligados à família ou a profissão. Em Araçuaí há vários exemplos, como os “ Periquitos”, Os Mané Véi, os Barriga Suja, os Pá Bosta, os Baú, os Batatinhas, os Mastiga, os China, os Farofas,entre outros.



Para Naka, não adianta se aborrecer com os apelidos recebidos porque senão, a emenda fica pior que o soneto. É como aquela história de um sujeito que se chamava João e tinha no fundo do quintal um enorme coqueiro. Todos o conheciam como João Coqueiro. Irritado, mandou cortar o coqueiro, deixando apenas parte dele. Não demorou muito e passaram a lhe chamar de João-do-toco. Arrancou o toco, deixou um buraco, tapou o buraco, plantou outra árvore. À medida que os fatos aconteciam, os apelidos apareciam. Teve de mudar de cidade.
Naka quer lançar seu livro no aniversário de Araçuaí, 21 de setembro e está buscando patrocínio para uma obra que com certeza vai dar o que falar.