Advogado diz que dificilmente vítimas do golpe da FIRV receberão o dinheiro de volta

17/07/2011 13:37

 

Lesados pelo golpe suspeitam da existência de uma conta com R$ 1 milhão de reais na agência do Banco do Brasil em Araçuai

Seis meses após ser preso Thales maioline é ouvido pelo juiz da 4ª Vara criminal de Belo Horizonte. Ele chegou ao Forum algemado e ecoltado por policiais

 

A declaração do advogado Antonio Miranda, dada em Belo Horizonte, de que dificilmente as vítimas do golpe da FIRV receberão o dinheiro de volta, caiu como uma balde de água fria na esperança dos que foram lesados por Thales Maioline e seus sócios. A entrevista do advogado foi publicada pelo jornal Estado de Minas. “ A menos que tenha algo encoberto, dificilmente os investidores serão ressarcidos”, disse o advogado. Ele explicou que alguns dos ex-funcionários da Firv conseguiram comprovar salários mensais de R$ 800 a até R$ 30 mil por mês, entre fixo e comissões, dependendo do giro de cada um, além da falta de pagamento de férias, 13º salário, fundo de garantia e aviso prévio. “O crédito trabalhista é preferencial. O que sobra é destinado ao pagamento de impostos e quirografários (comuns). No fim da linha, estão os investidores explica Antônio Miranda, advogado de 16 dos 17 agentes da sede da Firv em Belo Horizonte, que atuavam também em Itabirito, Itabira, Nova Lima e outras cidades, a exemplo de Araçuaí, terra natal do golpista

. Ex-juiz do Trabalho por 35 anos, Miranda lembra que enquanto esses processos trabalhistas levaram 60 dias para transitar em julgado, em média, outros podem levar até 10 anos.

Dos 16 processos trabalhistas, 14 já estão em fase de execução judicial, ou seja, o juiz já condenou a Firv, totalmente ou em parte, a pagar os valores reivindicados pelos ex-empregados. Passada essa fase, o juiz manda fazer os cálculos do valor da ação e cita a parte interessada, que sai em busca dos bens capazes de fazer jus à indenização. “O outro lado vai recorrer e o juiz vai nomear o perito para desempatar o cálculo dos valores, mas o importante é articular os empregados para que eles ajudem a encontrar os endereços dos imóveis e oficiar os bancos para bloquear valores em conta”, diz Antônio Miranda.

Enquanto as vítimas brigam para reaver o dinheiro aplicado, quase todos os funcionários da Firv, empresa de Maioline já conseguiram sentenças determinando o pagamento de indenizações trabalhistas. Juntos, agentes da Firv, que ajudaram Maioline a vender cotas de investimentos, devem conseguir algo em torno de R$ 2 milhões em indenizações, sem contar juros e correção monetária. Um dos ex-empregados pleiteia receber sozinho R$ 400 mil.



Conta

Segundo ele, os ex-empregados da Firv suspeitam da existência de R$ 1 milhão em conta aberta em nome de Comercial Maioline Ltda. em agência do Banco do Brasil em Araçuaí, município no Vale do Jequitinhonha. Eles desconfiam ainda da propriedade de um resort em Alcobaça, na Bahia, onde estaria morando atualmente Iany Márcia Maioline, irmã de Thales Maioline e seu pai, Iano Maioline. Ela responde a processo como sócia minoritária na empresa, assim como Oséias Marques Ventura, amigo do empresário. “Os agentes da Firv não tinham consciência do golpe. A maioria deles era colega de Thales em uma mineradora e não tinha nem curso superior, não tinha nem cabeça para montar um esquema de fraude desse porte”, garante o advogado. Segundo ele, muitos ficaram sem nada depois que a empresa quebrou e uma das assistentes vai ganhar somente R$ 3,5 mil na ação trabalhista. Ela teria sido despejada da casa onde morava e trabalha atualmente como atendente de telemarketing.

 

FIRV é condenada

Thales Maioline, sua irmã Iani, o cunhado Leandro Oliveira e o sócio Oseias Marques Ventura estão envolvidos no golpe milionário e podem pegar até 14 anos de prisão


Na maior parte dos processos em questão, a Firv foi condenada por registrar os empregados somente em março de 2010, apesar de funcionar como pessoa jurídica desde 2008, conforme depoimentos de testemunhas que constam nos autos. Uma curiosidade que consta nas ações é a reclamação do não pagamento dos salários de julho, mês em que Maioline foi dado como desaparecido, a partir do dia 23. O empresário permaneceu foragido por quase três meses e só se entregou à polícia em 22 de dezembro, um dia depois de dar entrevista exclusiva ao Estado de Minas revelando sua rota de fuga, que incluiu a Amazônia, a Bolívia e o Mato Grosso, disfarçado de fotógrafo.

Thales Maioline, natural de Araçuaí, onde também montou escritório da FIRV,  foi ouvido no mês de junho pelo juiz da 4ª Vara Criminal de Belo Horizonte Miltom Lívio Lemos de Sales que já foi juiz em Araçuaí. Ele é acusado de dar um prejuízo de cerca de R$ 100 milhões de reais em pelo menos 2 mil vítimas, sendo 200 em Araçuaí, sua cidade natal. Thales Maioline chegou ao fórum escoltado por dois policiais usando o uniforme vermelho da Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi) e assistiu aos depoimentos calado. Ele foi ouvido depois das dez testemunhas convocadas pelo juiz Milton Lívio

A ex-mulher do financista, Maria Aparecida Oliveira, e a filha de três anos acompanharam a sessão do lado de fora da sala. Foi o primeiro encontro de Thales com a filha desde que foi preso, em 22 de dezembro do ano passado.
Na primeira audiência desde que foi preso, há seis meses, em 22 de dezembro, r Thales Maioline, , foi cobrado publicamente pelas vítimas da maior fraude financeira de Minas Gerais, que gerou prejuízo de R$ 100 milhões a 2 mil pessoas em 14 cidades do interior e da capital. Em mais de oito horas de depoimentos, as 10 testemunhas foram ouvidas pelo juiz Milton Lívio, da 4ª Vara Criminal, sem intervalo nem para almoço. Tanto as falas da defesa quanto as da acusação eram unânimes em demonstrar perplexidade diante do encontro cara a cara com o réu, algemado e carrancudo, sem cumprimentar nem acenar a familiares nem ex-funcionários da Firv, que o ajudaram a vender as cotas de participação no clube de investimentos por ele criado em 2008.

 

Falsa imagem


Antes do golpe, Maioline vendia a imagem de sucesso, ostentando festas e carros de luxo que serviam de isca para atrair novos clientes, que bancavam a permanência dos antigos no esquema de pirâmide financeira. “Não consigo entender tanta mentira assim. Para mim, ele era um cara honesto, íntegro, um exemplo de pessoa. Se não fosse isso, não teria acreditado nele e investido meu dinheiro”, desabafou uma vítima, ao acompanhar a chegada de Maioline ao Fórum Lafayette, às 8h22, vestindo o uniforme vermelho de prisioneiro do Centro de Remanejamento de Presos (Ceresp) São Cristóvão. E completou: “Só tenho uma palavra para definir esta situação – inacreditável. Acredito que esse sentimento é o mesmo das outras vítimas”.

Nos bastidores da audiência de instrução, as vítimas trocavam impressões entre si. Outra investidora, mais realista, dizia ter consciência de que nenhuma outra aplicação do mercado iria lhe proporcionar rendimento de 12% ao mês. “Quem investisse R$ 100 mil, em oito meses retornava o investimento, ou seja, tinha mais R$ 100 mil na mão. Eu estava deixando o meu dinheiro lá até inteirar o valor necessário para comprar meu apartamento, mas não deu tempo. Fiquei sem nada, pois a empresa quebrou antes”, lamentava ela, que continua morando de aluguel e perdeu todas as economias.

“Conheci a Firv por indicação do tio de um amigo, que era colega do Thales na mineração onde ele trabalhava”, afirma o ex-agente da Firv Diogo Estevão Pinheiro Resende, que testemunhou como vítima. Primeiro, ele afirmou ter perdido R$ 1 milhão no clube de investimentos, depois abaixou o valor para R$ 500 mil e recalculou para R$ 400 mil, reconhecendo que o valor ultrapassa mais que o dobro considerando os rendimentos que deveriam ter sido pagos por Maioline antes do golpe. “Ele sempre pagava em dia os dividendos. Ninguém nunca desconfiou de nada”, afirma o investidor, que convenceu a própria mãe, que acabava de se divorciar na época, a investir a parte que lhe cabia dos bens da família nos papéis frios da Firv.

 

 

 

Sérgio Vasconcelos com informações do jornal Estado de Minas

 

Entenda o caso

>> Sem autorização da Comissão de Valores Mobiliários(CVM), Thales Maioline montou um sistema de pirâmide, pelo qual o rendimento dos novos investidores que entravam na base da pirâmide sustentavam o topo. Aos clientes, ele oferecia rendimento acima da média de mercado (5% ao mês mais bonificação semestral).

>> No ano passado, Thales começou a ter dificuldades em honrar compromissos. Em julho, ele foi declarado foragido. A Polícia Civil, então, abriu inquérito para apurar suspeita de estelionato contra Thales e seus sócios. As investigações indicaram que Thales pode ter dado prejuízo da ordem de R$ 100 milhões a mais de dois mil investidores.

>> Maioline foi apelidado de “Madoff mineiro” por causa da semelhança com o esquema montado pelo investidor americano Bernard Madoff, condenado por fraude milionária em Wall Street. Depois de meses foragido, o empresário mineiro se entregou à polícia em dezembro, um dia depois de conceder entrevista ao Estado de Minas avisando que se apresentaria.

>> Em março deste ano, o Ministério Público ofereceu denúncia contra Maioline e mais três sócios por formação de quadrilha, estelionato e falsificação de documentos. A Justiça acatou a denúncia e transformou os quatro em réus.